Primeira)
Er, não sei bem como
iniciar esta conversa. Não deveria ser eu a iniciá-la. Veio de você a ofensa,
você foi o causador da. Mas sou eu quem sinto falta. Não sei bem como iniciar
esta conversa. Está iniciada?
Segunda)
Covarde. Por que ficou
calado? Por que se esconde? Não aguenta ter a verdade na cara? Você sempre foi
o mimado que mija nas calças. Não me olha. Dá meia-volta. Muda o curso regular
das ruas por onde passa. Pensa outro caminho para evitar que a gente se encontre.
Tá com medo de que: de mim ou de tu mesmo? Não consegue se olhar no espelho.
Olhar de verdade. Espelho quebra. Li num bar: perdão só amanhã.
Terceira)
Olha o que tu fez com a
gente.
Quarta)
Esqueça, ano novo chegou.
Todo ano novo é tempo de... é tempo de quê?
Quinta)
- Oi. Como cê tá?
- Tô bem. E você?
(...)
- Não vai falar nada
além de “tô bem”?
- O que quer que eu
fale?
- Cínico filho da puta.
Sexta)
Quando eu era criança,
li um conto de fadas. Era uma vez uma princesa que, quando falava, saía pela
sua boca pedras preciosas, flores, belezas, talvez açúcar. Um dia, uma bruxa a
enfeitiçou e, a partir daí, saíram de sua boca rãs, cobras, ervas daninhas. Não
sei como terminou a história. Talvez, durante um tempo, a princesa tenha ficado
calada.
Sétima)
Ofereça a outra face.
Receberia bofetada? Beijo? Bofetada e beijo? Nada? Permaneceria por quanto
tempo com a face virada? Das duas, qual seria a face mesma? Temos mais de uma? Mais
de duas? O risco não cala. Nem se vira.
Escolha qualquer
uma das opções acima. Inicie longa conversa.
***
Douglas
de Oliveira Tomaz, nascido em 1993, é autor do blog pessoal www.abrigosdevagabundo.blogspot.com.br,
recebeu uma menção honrosa no concurso literário do Clube de Escritores de
Ipatinga – MG (Clesi), edição 2013, e possui textos seus publicados pelas Revista Jangada. Em 2015, lançou de modo
artesanal seu primeiro livro de poemas: Escorre.
Atualmente, reside em Pirapora - Minas Gerais.
Ilustração:
Vinícius Ribeiro (http://pensamentoilustrado.tumblr.com/)
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